De olho na Geração Z: café gelado ganha espaço na estratégia da Nestlé

Gigante suíça aposta na variedade e investe em bebidas de diferentes regiões, linhas com intensidades diversas, cápsulas, café torrado, moído e solúvel e também café com gelo, conta Bárbara Velo, da Nestlé Cafés, à Bloomberg Línea

The logo for Nestle SA's Nescafe coffee is seen on a cup of iced latte in this arranged photograph at the company's Cafe Nescafe coffee shop in the Harajuku district of Tokyo, Japan. Japan, where majority of retail purchases are made in cash, is attracting US mobile-payment companies such as Paypal and Square. Photographer: Kiyoshi Ota/Bloomberg
Por Daniel Buarque
13 de Junho, 2025 | 12:06 PM

Bloomberg Línea — Na prateleira do supermercado ou na cafeteria, a forma como os brasileiros - e os latino-americanos - consomem café pode estar prestes a ar por uma transformação.

A crise do setor, as mudanças climáticas e os altos preços dos grãos podem fazer com que ele deixe de ser “apenas” a bebida quente consumida ao longo do dia para ganhar espaço como item versátil, refrescante e associado a escolhas conscientes - ao menos essa é a visão da Nestlé para o futuro do café.

PUBLICIDADE

“O brasileiro consome, em média, quatro xícaras de café por dia, e nós esperamos que pelo menos uma delas seja gelada”, afirmou Bárbara Velo, gerente de ESG da Nestlé Cafés, em entrevista à Bloomberg Línea.

Segundo a executiva, o movimento já é visível em diferentes mercados e entre consumidores mais jovens, especialmente aqueles da Geração Z.

“O café gelado é uma grande oportunidade [de negócios]. Ele acompanha uma mudança de clima e de estilo de vida”, disse.

PUBLICIDADE

Leia mais: Como o café gelado para beber em casa se tornou aposta de marcas como Danone e Nestlé

Para os consumidores, esse novo cenário se traduz em mais possibilidades.

A centenária marca suíça aposta na diversidade como uma das estratégias: cafés especiais de diferentes regiões brasileiras, linhas com intensidades variadas, cápsulas, torrado e moído, café solúvel e o citado café gelado.

PUBLICIDADE

“Hoje temos um portfólio muito mais plural, que acompanha os hábitos de diferentes perfis de consumidor”, afirmou Bárbara Velo.

“A nossa missão é oferecer a cafeteria dentro de casa, mas também permitir que o consumidor tenha a experiência de um café artesanal se quiser.”

Essa “democratização” do o a cafés com perfis sensoriais variados vem acompanhada de ações para aumentar a conscientização do público.

PUBLICIDADE

A empresa firmou parcerias com baristas, especialistas em café e produtores locais para aproximar o conhecimento técnico da rotina dos consumidores.

“Estamos vivendo um momento em que café é tratado como vinho ou cerveja artesanal. Existe curiosidade, interesse por origem, torra, aspectos sensoriais. A indústria precisa acompanhar esse movimento e contribuir com escala”, disse a executiva.

Leia também: Café instantâneo ganha impulso com inflação e onda de ‘baristas caseiros’ no TikTok

A mudança do perfil de consumo não se limita ao formato e ao estilo da bebida.

O modelo como o café é produzido também começa a pesar na decisão de compra. E a sustentabilidade, antes considerada um diferencial para certos segmentos, hoje faz parte da expectativa de um número crescente de consumidores.

“Nós acreditamos na criação de valor compartilhado. Quando investimos em cadeias de fornecimento mais sustentáveis, geramos benefícios para o produtor, para a empresa e para o consumidor”, disse Marcelo Burity, head global do Nescafé Plan, também em entrevista à Bloomberg Línea.

No Brasil, 100% do café comprado pela Nestlé já é rastreável e oriundo de práticas que a empresa classifica como responsáveis. Globalmente, esse índice chegou a 93% em 2023.

Isso significa, segundo a companhia, que a maior parte do volume adquirido vem de produtores que contam com assistência técnica, boas práticas agrícolas e acompanhamento socioambiental.

Essa rastreabilidade tem impacto direto sobre o produto final. “Todo esse trabalho no campo se traduz em qualidade. O produtor entrega um café com mais consistência e melhor perfil sensorial”, explicou Velo.

Leia também: ‘Café fake’: avanço de falsificação diante da alta de preços preocupa a indústria

O esforço para valorizar essa conexão também é uma resposta à crise recente que afetou o setor. Com a alta de preços e as quebras de safra no último ano, aumentou a desconfiança do consumidor sobre a qualidade do café disponível.

Além da atenção ao café fake, que ganhou espaço no mercado, cresceram boatos sobre café de baixa qualidade vendido ao consumidor.

Para Bárbara Velo, esses sintomas indicam que é preciso fugir de atalhos que possam reduzir custos e que é fundamental manter um padrão esperado pelos consumidores. “A qualidade é inegociável para a marca. Mesmo diante da pressão de custos, não abrimos mão disso”, disse.

Um alívio para quem bebe café vem da expectativa de recuperação gradual da cadeia produtiva, que ou por uma crise que levou ao aumento dos preços nos últimos anos. “Nós vemos projeções muito boas para que 2025 e 2026 tragam um abastecimento mais regular”, afirmou Burity.

Mais do que acompanhar tendências, a Nestlé quer influenciar o caminho do setor. “O futuro do café é regenerativo, personalizável e gelado”, disse Velo. Essa perspectiva, no entanto, depende de investimentos consistentes em toda a cadeia produtiva.

“O que estamos fazendo agora é expandir e acelerar nossos programas com produtores. Já fizemos muito, mas ainda temos uma longa jornada”, afirmou Burity.

Leia também

Starbucks testa bebida proteica para entrar na onda fitness e recuperar vendas

Marcas de café apostaram em preços mais baixos. Agora estão sob pressão

Daniel Buarque

Daniel Buarque

É doutor em relações internacionais pelo King’s College London. Tem mais de 20 anos de experiência em veículos como Folha de S.Paulo e G1 e é autor de oito livros, incluindo 'Brazil’s international status and recognition as an emerging power', 'Brazil, um país do presente', 'O Brazil é um país sério">

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
Green