Marfrig anuncia acordo para incorporar BRF e criar gigante com R$ 153 bi em receita

União dos negócios de duas das maiores empresas de produção e processamento de carnes do mundo, sob a liderança de Marcos Molina, foi antecipada pela Bloomberg News

Marcos Molina, controlador e presidente dos conselhos de istração de Marfrig e BRF, em evento em Jeddah, na Arábia Saudita em 21 de abril de 2025 para anúncio de investimento em nova fábrica de alimentos processados (Foto: Divulgação)
15 de Maio, 2025 | 09:08 PM

Bloomberg Línea — A Marfrig e a BRF anunciaram ao mercado no início da noite desta quinta-feira (15) um acordo para unir as suas operações, em negócio que, se concretizado, dará origem a uma nova gigante global na indústria de carnes e de alimentos.

A notícia sobre a iminência do acordo foi antecipada pela Bloomberg News no fim da tarde desta quinta.

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A nova companhia será denominada MBRF Global Foods Company, caso a operação seja aprovada pelos acionistas de ambas as companhias, em assembleias agendadas para 18 de junho, além de autoridades regulatórias.

O acordo é mais um capítulo da ascensão do magnata da carne Marcos Molina.

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Em 25 anos, ele saiu da compra de sua primeira unidade de processamento em Bataguassu, em Mato Grosso do Sul, próximo à divisa com São Paulo, para erguer um império da carne que nasce com receitas líquidas de R$ 153 bilhões ao ano, valor de mercado superior a R$ 50 bilhões e presença em mais de 120 países.

Ao longo dessa trajetória, Molina, hoje com 55 anos, se notabilizou pela estratégia de crescimento orgânico e inorgânico agressivo, com compra e venda de ativos no Brasil e no exterior, que pressionou a dívida em diferentes ocasiões.

Mais recentemente, ele se aproximou e trouxe para a BRF o fundo soberano saudita Salic, que se tornou o segundo maior acionista da companhia, em movimento visto no mercado como fundamental para viabilizar a então futura fusão.

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“Vejo muito mais oportunidades na BRF do que em qualquer outra empresa que compramos no ado [...] Temos a convicção de que vamos conseguir. É apenas uma questão de quando”, disse Molina à Bloomberg News há dois anos, em rara entrevista, em referência à então potencial fusão entre Marfrig e BRF.

Pelo acordo, a Marfrig (MRFG3), controlada por Molina, fará a incorporação das ações que não possui na BRF (BRFS3) - a sua fatia atualmente é de 50,49% do capital.

Molina detém 72,07% do capital da Marfrig e será diluído para que a transação aconteça, mas seguirá como o principal acionista da nova companhia.

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A relação de troca prevê que os acionistas da BRF (com exceção à Marfrig) receberão 0,8521 de ação ordinária de emissão da Marfrig para cada ação ordinária de emissão da BRF detida na data de consumação da incorporação.

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Haverá pagamento de dividendos e/ou juros sobre capital próprio no montante total de R$ 6,020 bilhões para os acionistas das duas companhias caso o negócio seja concretizado, dos quais R$ 3,52 bilhões pela BRF e R$ 2,50 bilhões pela Marfrig.

As receitas líquidas combinadas de cerca de R$ 153 bilhões são calculadas já em cima dos números do primeiro trimestre no conceito dos últimos doze meses (para efeito de comparação, a JBS, líder mundial em produção e processamento de proteína animal, tem cerca de R$ 442 bilhões em receitas líquidas).

A MBRF Global Foods será uma empresa com atuação relevante na produção e no processamento de carne bovina - a principal força da Marfrig, líder mundial em hambúerguer -, de frangos e suína e presença global, em mais de 120 mercados, e marcas conhecidas como Sadia, Perdigão, Bassi e Montana, entre outras.

“A incorporação de ações visa à criação de uma empresa global de alimentos com base em uma plataforma multiproteínas, forte presença nos mercados doméstico e internacional, diversificação de portfólio, escala, eficiência e sustentabilidade”, disseram as empresas em fato relevante conjunto sobre o racional do negócio.

As sinergias estimadas são da ordem de R$ 805 milhões por ano, dos quais R$ 485 milhões de aumento de receitas e redução de custos decorrente da aceleração de oportunidades de cross-selling; e redução de despesas de R$320 milhões, decorrente da estrutura comercial e logística, da consolidação de um sistema operacional único e da otimização da estrutura corporativa.

As empresas apresentaram ainda a previsão de uma consequente otimização fiscal no montante estimado de R$ 3 bilhões, a valor presente líquido.

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Valor de mercado acima de R$ 50 bi

O valor de mercado combinado supera a casa de R$ 50 bilhões em cima dos números de fechamento da B3 nesta quinta: R$ 17,72 bilhões da Marfrig e R$ 34,69 bilhões da BRF.

A JBS (JBSS3), também para efeito de comparação, tem market cap de R$ 86,91 bilhões - e espera multiplicar esse valor com a listagem na “reta final” na NYSE, a Bolsa de Nova York, diante do o a um mercado com maior liquidez, entre outros fatores.

As ações de ambas as companhias - Marfrig e BRF - tiveram altas expressivas nesta quinta, de 4,34% e 4,78%, respectivamente.

A mudança na estrutura das companhias ocorre quatro anos depois que Molina, considerado um magnata brasileiro da carne, iniciou uma investida para assumir o controle da BRF, que incluiu compras agressivas de ações a preços baixos.

A aposta se mostrou acertada, já que a unidade se beneficiou de mudanças na gestão e de uma bonança no mercado de frango, o que impulsionou seus lucros e aumentou a perspectiva de pagamentos de dividendos expressivos.

- Com informações da Bloomberg News.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.