Itaú vê Selic estável em 14,75% ao ano até dezembro e cortes apenas em 2026
Em relatório, equipe de pesquisa macroeconômica liderada por Mario Mesquina avalia que o Copom já encerrou o ciclo de alta de juros, a julgar pela visão expressada em sua comunicação ao mercado
Itaú vê Selic estável em 14,75% ao ano até dezembro e cortes apenas em 2026 |Para economistas do banco, Copom sinalizou confiança de que a política monetária atual é suficientemente contracionista (Foto: Divulgação)(Divulgação)
Bloomberg Línea — O Itaú Unibanco projeta que a taxa básica de juros, a Selic, permanecerá estável em 14,75% ao ano até dezembro de 2025, e o início dos cortes ocorrerá apenas em 2026, quando o patamar cairia para 12,75%.
A avaliação faz parte do relatório de cenário macroeconômico de maio, elaborado pela equipe de pesquisa macroeconômica do banco, liderada pelo economista-chefe Mario Mesquita.
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Segundo o documento, divulgado nesta sexta-feira (16), o Banco Central sinalizou confiança de que a política monetária atual é suficientemente contracionista para reduzir a inflação à meta, ainda que de forma gradual.
Na leitura do Itaú, o Comitê de Política Monetária (Copom) já encerrou o ciclo de alta de juros ao elevar a Selic para 14,75% ao ano na última reunião, apesar de ter mantido a possibilidade de novos ajustes na decisão do último dia 7 de maio.
O relatório destaca que as projeções de inflação do BC continuam acima da meta no horizonte relevante — com expectativa de 3,6% para o quarto trimestre de 2026, acima do centro da meta de 3%.
Apesar disso, a autoridade monetária parece confortável com a taxa atual, ao adotar uma estratégia de manutenção prolongada dos juros em nível elevado.
“A avaliação das autoridades sobre os possíveis efeitos da mudança no ambiente externo (ao adotar a perspectiva de que o balanço de riscos em torno do cenário central é simétrico) estabeleceu, em nossa visão, uma barra relativamente alta para um novo ajuste da Selic em junho”, dizem os economistas do Itaú no relatório.
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Com a Selic nesse patamar, simulações do Itaú (ITUB4) indicam que a inflação tende a se mover para algo em torno de 3,3% no fim de 2026, o que estaria suficientemente próximo da meta para justificar a pausa nos ajustes.
No entanto o banco ressalta que não há espaço para cortes neste ano, dada a resiliência da atividade econômica e a desancoragem das expectativas de inflação.
A visão é que apenas com uma desaceleração mais evidente — esperada para o próximo ano — e sinais mais firmes de ancoragem das expectativas será possível iniciar a flexibilização monetária.
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Cenário fiscal preocupante
No campo fiscal, os economistas do Itaú reiteram a necessidade de controle de gastos.
A equipe manteve a projeção de déficit fiscal primário em 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2025 e 2026, abaixo do alvo de -0,6% do PIB neste ano, considerando as despesas que atualmente estão fora da meta fiscal do governo.
O banco destaca que será crucial o anúncio de medidas robustas de contenção de despesas, especialmente na próxima revisão bimestral do orçamento, marcada para 22 de maio.
“Um anúncio de uma contenção robusta, da ordem de R$ 40 bilhões [...] sinalizaria uma maior prudência na execução orçamentária”, afirmam os economistas no relatório.
Para 2026, o banco alerta que o principal risco é a adoção por parte do governo de iniciativas que “alterem, contornem, ou desfigurem” as regras fiscais, diante da proximidade das eleições.
Projeção de crescimento do PIB
Já em relação à atividade econômica, o banco manteve a projeção de crescimento do PIB em 2,2% para 2025, com expectativa de uma desaceleração mais nítida apenas no segundo semestre.
O bom desempenho no início do ano, com destaque para o setor agropecuário e o consumo sustentado por renda elevada, levou o Itaú a estimar um crescimento de 1,8% no primeiro trimestre, acima do 1,6% previsto anteriormente.
Para 2026, a expectativa de avanço do PIB é de 1,5%, com potencial de alta, considerando a possibilidade de políticas fiscais e parafiscais mais expansionistas no período.
O relatório também projeta inflação de 5,5% em 2025 e 4,4% em 2026, com riscos equilibrados no curto prazo e tendência de pressão no médio prazo, especialmente por um mercado de trabalho ainda aquecido e expectativas inflacionárias que seguem desancoradas.
Quanto ao câmbio, o banco manteve sua estimativa em R$ 5,75 para o dólar tanto para 2025 quanto para 2026, refletindo um cenário externo ainda volátil e incertezas domésticas que limitam uma apreciação mais significativa da moeda brasileira.
É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.