Mercado agora vai ‘esperar para ver’ as promessas de Trump, diz gestor da Gauss
Gabriel Giannecchini, sócio e portfolio manager, apontou em entrevista à Bloomberg Línea as incertezas e os riscos que envolvem as políticas do presidente eleito; uma das poucas apostas é na alta do dólar
Mercado está à mercê das declarações de Trump – e de quais delas vão virar realidade, diz Gauss Capital |Para gestores de recursos, a incerteza dificulta a tomada de decisão às vésperas do novo governo (Foto: Michael Nagle/Bloomberg)(Bloomberg/Michael Nagle)
Bloomberg Línea — O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, toma posse nesta segunda-feira (20) para seu segundo mandato à frente da maior economia do mundo. Depois de meses de promessas e especulações, investidores globais aguardam a posse de fato e suas primeiras medidas no comando da Casa Branca para entender a tônica da nova istração Trump.
A ampla expectativa é a de uma abordagem expansionista para a economia, com corte de impostos e incentivo à indústria nacional, em especial a de combustíveis fósseis. Outra promessa de campanha é aumentar a taxação de produtos importados para favorecer as companhias americanas.
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O impacto no comércio internacional e na inflação dos EUA preocupa o mercado. Ainda não se sabe, no entanto, em que medidas as promessas de Trump serão realmente implementadas.
“Desde a eleição, já tivemos muita movimentação no mercado. E, agora, ficamos à mercê de saber se Trump irá realmente implementar tudo que falou”, avaliou Gabriel Giannecchini, sócio e portfolio manager da Gauss Capital, em entrevista à Bloomberg Línea.
Para os gestores de recursos, a incerteza dificulta a tomada de decisão. “Temos discutido muito aqui na mesa qual seria a melhor aposta para proteção nesse ambiente, mas é difícil. Decidimos olhar mais ex post [após o anúncio das primeiras medidas]”, afirmou.
A cautela não significa que os gestores não tenham montado posições.
Na Gauss, uma das principais apostas é a posição comprada em dólar. A moeda americana vem subindo desde a eleição de Trump: o índice DXY, que mede a força do dólar ante uma cesta de seis moedas fortes, subiu 6,74% no acumulado de 2024 – com alta de 4,3% apenas nos dois últimos meses do ano.
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Algumas moedas, no entanto, podem sair fortalecidas contra o dólar. A principal posição da Gauss sob esse viés é no dólar canadense, que tem estado bastante volátil com as ameaças de taxação por parte de Trump.
A gestora também tem posição vendida em dólar contra o real após a disparada de 27% da moeda americana contra a brasileira no ano ado. Mas Giannecchini reforça que não é nada estrutural. “É uma posição relativa. Estamos muito leves em Brasil.”
Tarifas como desafio
O gestor da Gauss apontou a política tarifária do governo Trump como principal ponto de incerteza em sua transição para o cargo.
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O presidente eleito já deu declarações sobre a possível imposição de tarifas de 25% sobre bens importados de seus vizinhos mais próximos, México e Canadá, além de uma tarifa adicional de 10% sobre a China.
Por outro lado, sua equipe estuda uma alta mensal e gradual sobre as importações, segundo informações da Bloomberg News. Uma das ideias envolve um cronograma de aumento gradual das tarifas, em cerca de 2% a 5% ao mês – uma abordagem que diminuiria os riscos inflacionários da medida.
“Existe um espectro entre o cenário mais brando, no qual as tarifas ficariam apenas no campo da ameaça, e o mais agressivo, com a implementação, na largada, de taxas mais duras. Temos comprado proteção contra os países que podem ser retaliados”, afirmou Giannecchini.
O gestor avalia que, se bem aplicadas, as tarifas podem beneficiar as empresas e a renda variável americana – a Gauss mantém posição no S&P500, um dos principais índices de ações dos EUA.
“Por outro lado, se a corda ficar muito esticada, isso deve impactar a inflação e prejudicar os ativos.”
Giannecchini relembrou que, em seu mandato anterior, Trump nem sempre colocava suas ameaças e propostas polêmicas em prática. “Ele é muito comunicativo via mídias sociais, mas acaba falando mais do que fazendo”, disse.
No entanto existe uma ressalva: diferentemente do primeiro mandato, Trump agora tem maioria nas duas casas do Congresso americano, o que deve facilitar a aprovação de medidas de sua istração.
Para o gestor, é preciso esperar para ver, em alusão ao clichê. “Os movimentos de mercado antes das decisões de Trump acabam sendo muito erráticos.”
Jornalista especializada na cobertura econômica. Formada pela USP, escreve sobre mercados, negócios e setor imobiliário. Tem agens por Exame, Capital Aberto e BandNews FM.